2008




Éramos risos, cores, amizades e vida.
Éramos o tudo e o amanhecer ensolarado, éramos o rei no rádio, as tardes risonhas.
Éramos a vida que queríamos as flores amarelas da estrada, as viagens que não voltam mais.
Eram três, eram dois, um só. Éramos!
E partidos fomos, errantes, errados, humanos.
E somos o que dizemos o que fazemos e o que não falamos. Somos o amor e a dor, somos saudade.
E hoje, vendo-os refazer-se sinto uma lacuna enorme de uma ferida que nunca cicatriza que nunca fica em silêncio, que grita perdida.
Saudade é o nome que se dá a tudo que foi,

que éramos e em algum lugar ainda somos.  

Dois a Rodar




Eram dois,
E naquele momento os sons se abafaram
Os risos se distanciaram, a rua foi para longe, o asfalto se afastou dos pés.
Enquanto se tocavam os dois poderiam sentir um e o outro num só
Estavam sós, a sós. Os rostos alheios tornaram-se desimportantes, o nada.
Ali, onde as ruas e o barulho se foram, justo ali tudo havia e nada havia
Eram dois a rodopiar, flutuantes no espaço que se tornava só deles.
Eram dois a rodar em contramão, entre beijos e abraços partidos
Em despedidas entrecortantes, angustiantes, músculos reprimidos, palavras contidas

Eram apenas dois.  

A glass of wine



O mais triste do solitário não é a solidão em si.
É estar preso numa sala, cercado por pessoas
Você grita e ninguém ouve, chora e ninguém acolhe
Onde está? A calmaria onde está?
Um meteoro atingiu a nuca – e como dói.
Sangra, nunca estanca.
E no mundo o desespero. Por que não ser menos?
Qual o porquê de tanta intensidade, choro e dor.
O corpo não queima mais, arde e espalha desolação.
É desesperador. 

O amor se manifesta




Ainda em desamor, tempo de amor será.

É a frase que toca o momento mais presente. Há exatos 12 meses acreditava que o desamor iria para nunca mais, engano. As pessoas ficam vulneráveis quando solitárias, acreditam em tudo que tocam, sentem com mais intensidade do que deveriam e falham, afinal é humano.

Outro dia conversava com alguém que dizia não acreditar no amor, que era uma fantasia cinematográfica, incapaz de ser real, pois a rotina esmaga o amor. Uma máxima muito forte para se ouvir antes dos trinta e com ânsia de desbravar o mundo.

Acredito no amor que se manifesta das ínfimas formas. Em cada partícula de amizade, em cada beijo ou abraço, ou num simples sorriso da criança.

O amor é leve e nos faz querer ser mais e melhores do que somos, é despretensioso. Também pode ser faminto, suplicante, urgente, mas nunca egoísta. Não pode exigir não se doa mais do que recebe. O amor não grita, recebe e pronto. Há de ser legítimo o seu tempo e facilmente reconhecido. Não acredito no amor que implora, humilha, destrata, maltrata... No amor que não ama, apenas demanda.

Já que fui ouriço, borboleta e flor. Acredito em tempo de amor. Embora num mundo onde as pessoas não se olham mais, não se respeitam ou cuidam. Tudo é frágil, as amizades, os amores descartáveis, a vida descartável. Quem sabe um dia.

Os mais próximos sabem. A vida às vezes é fardo difícil de carregar. Mesmo assim, tempo de amor será.
Acredito no som dos pássaros, no barulho da chuva e no riso mais sincero do bebê que ainda desconhece o mundo.  “De dentro, se vê o longe.”

Ontem eu chorei não de tristeza, de amor. Agradecia por ainda reconhecer em meu caminho olhares sinceros – mesmo em desamor.

E se é verdade que “A mente criativa não se contenta com a mesmice (...) os criativos têm o poder de mudar o mundo da forma mais brusca e verdadeira” – Ainda em desamor, tempo de amor será. 

Eternos campos de laranja




Lágrimas sutis,
Silenciosas como a dor que sente – e mente.
Engana-se sempre. Amor não há, não está, não se pertence.
Desconhece.
Chora em silêncio adornada por laranjeiras. Reais?
Tão funda e constante a dor que sente. Presente em tudo, nunca passa nem acalma.
Entorpece e queima.
Engana o olho que mente.
Contentar-se nunca basta – não se basta
“Não há bastardo que se baste”.
A mãe onde está? Nela, há?!
Curvas erroneamente visitadas,
Engano.
Não há, não está, nem pertence,
Só sente.

Impublicáveis Versos



Coisas que tornam feliz um coração solitário,
É sentir de longe que mesmo desilusão há esperança em ser ilusão.
Os sons gritam como outrora, os dias se vão com agilidade, o sabor dos lábios é doce como vinho que permite entorpecer os sentidos.
E adormece aquela que terna está. Queima, nos dias quentes da cidade barulhenta – arde.
Como se fizesse morada no calor dos corpos molhados.
Impublicáveis versos – será?
Há verdade, há vida – mentira.
A vida se esvai, tal como os dias e a primavera
Tal como palavras distorcidas de Hera.  

As cores




Havia uma moça que morava no lugar mais barulhento do mundo e isso a incomodava.
Não é verdade, não era o barulho que a incomodava, eram os risos frenéticos, o suor dos corpos, as cores e os confetes, onde ela, ali, somente ela não enxergava tais cores, tais luzes. 

Sofrera uma perda, destas que se perde casualmente, que não se tem culpa apenas se perde. Desde ainda muito jovem nutria sonhos, e como não poderia deixar de ser, havia neles o exagero das mulheres desesperadas, que esperam, desejam, gritam, abraçam sem querer mais soltar.

Um dia, como sem mais nem por que ouviu um sorriso familiar e lhe parecia o seu. Tinha um som mudo, uma melancolia recorrente, a familiaridade do caos. Filhos do caos.

Pessoas que se formam em meio às dores, de alguma forma tornam-se reféns de si mesmas, pois embora queiram fugir dali, a tristeza é como algo que as retém. Fazem repudiá-la sem força para resistir, é como estar preso estando solto, como viver à margem de si.

Pois bem, encontraram-se, amaram-se, tornaram especial.

No fim do sonho estava o engano, a coisa. Daquela moça, solitária em meio a multidões, que aceita as migalhas de afeto que lhe são dispensadas, pois simplesmente não consegue enxergar o valor da vida sem o amor.
Não tem medo de ser piegas e querer para si dias coloridos, repletos de luzes vibrantes e barulho de sorrisos rasgados, sinceros, limpos. Como um dia ensolarado na cidade barulhenta. Onde o céu é absurdamente azul, as nuvens parecem sim terem sido tecidas do mais puro algodão e o sol, ah... sol. O sol brilha tão forte que é capaz de energizar até a mais triste e solitária das criaturas.

Onde está o pecado?

A moça pensava: “Haveria pecado em querer ser feliz?”

Seus pensamentos a levavam para terras de sonhos, onde avistava uma casa amarela com janelas azuis. Havia um jardim, a grama era cintilantemente verde e as flores tinham cores campestres. O ar era leve, o vento fresco e aroma sutil.  O mais pueril dos sonhos.

Embora em meio a inúmeras tentativas, já não consegue mais despertar, está velha, exausta. As rugas são marcas dos desgastes da alma, não do tempo. Um dia, no fim da vida tudo isso há de fazer sentido.

Afinal, é mais que um dar de mãos. 

Azul





Não gosto do sol, prefiro a chuva e o frio que vem junto com ela
O frio pode nos proporcionar o calor humano.
Não gosto da escuridão, prefiro o brilho das luzes que acendem algo dentro de nós
E se forem coloridas, um tanto melhor.
Gosto do riso, mas ainda prefiro o choro emocionado das lágrimas seguidas por um sorriso real.
Às vezes não gosto da vida, outras sim
Gosto da beleza de se saber morrer e nascer todos os dias.
Gosto quando o percebo em cada pequeno gesto, tom, parte, som, dia – o amor.
Be an animal, be strong, be free. 
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