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E esta é a sensação de estar perdida.

Não que deseje me sentir assim, mas como disse ainda não aprendi a ofertar a outra face.
Então, esta é a minha maneira de revidar: ser hostil.
Carrego este peso e quero transformá-lo em algo positivo. Gostaria de poder enxergar a situação de fora dela.
Peço ajuda dos seres e dos elementos para me manter forte, me recolho, encolho, isolo-me novamente para tentar não magoar ou ofender ninguém. Só quero a paz de estar comigo e trazer e dar amor ao redor, ao todo ao meu redor.
Não quero ser odiada, rejeitada, abandonada por perder o controle das minhas emoções, quero ter o controle delas.
Ontem tive um sonho, e no meu mais doce sonho encontrei uma tarde de baunilha, e lá alguém segurava minha mão e dizia: “Tudo vai passar”. Foi um sonho doce, lindo, como há muito não tinha.  Acordei mais leve e otimista. Gostaria de voltar aquele sonho novamente, queria segurar aquela mão novamente, aquele toque foi tão real, mágico, intenso.
Que eu esteja amparada pelos dragões, elfos, fadas e toda a luz do universo para atravessar a chuva e encontrar o brilho do sol.
Quero deixar a raiva ir embora. 


Abrigo do vento


Tantas eu num só...
Tantas mulheres fortes, fracas, novas, velhas.
Histéricas, sensatas, doidas cheias de recato, loucas de desejo.
Um intenso ano.
Dores, salvação, amargura, amor.
Cores invadiram a vida formando expressões enigmáticas do que seria o hoje.
Sentada no canto da sala a menina se isola, olha seus sapatos vermelhos, aqueles que outrora escandalizavam a todos.
Às voltas com o vazio das paredes brancas de sua sala, um sentimento indescritível se apodera de seu coração, perde a fala -fica muda.
A confusão que toma posse das idéias não acalenta nem afaga, desespera.
Sentada vê a vida passar com insatisfação.
Não há respostas para os dias. O vento se recolhe em hera.
Por quantas ruas tontas rodopiaria ao encontro do mar?

A dança




É a angústia que sufoca
Velha ou nova. O nó
Se faz presente.
Um grito preso na garganta,
Choro contido, tristeza.
Uma dor muda e suplicante.
Suplica por paz, serenidade, vida.
O corpo exausto da luta, conflitos internos e externos
Um verme que invade as idéias e as fazem ficar perdidas.
Claridade, onde andará?
Existirá um espaço capaz de encaixar este corpo?
As feridas calam e segue a dança. 

É primavera...



Queria ser escritora, escrever sobre vidas, quem sabe uma forma de viver outras histórias que não fossem sua. Ou tomar a vida de seus personagens e viver contos de felicidade. Uma praga a perseguia, talvez, não conseguia seguir muito além com linhas felizes, já as tristes eram quase como cuspir palavras, dizem que a escrita é escapar da vida.

Um dia, levantou-se ainda com as dores de ontem, tomou um papel e decidiu escrever sobre verdade. Fazia muito calor, já era tarde. O sol cintilava, mas pensava em escrever sobre a escuridão, não sobre a escuridão dos dias, é claro, mas a escuridão que acomete os corpos vez ou outra. Seria capaz de ser clara em seu intento?

Buscou clareza na escuridão dos corpos, haveria de se contentar com aquilo, seguir além e dar vida a sua. De repente viu cores de primavera, com ressalvas. Sabe bem, haverão dias em que as cores fugirão, mas espera refazer-se como outrora e encontrar novas de viver.

Caixas vazias





Hobbit, que criaturas adoráveis são os Hobbits.
Um passo dado, para outro começar.
Ela que vaga por entre as idéias, sente falta.
Serão dias e dias da saudade.
Mas deixar ir é saber.
Diz que nada mudou
Mas onde está você? Nos móveis, nos lençóis, nos porta-trecos?
Mudo, calado, incólume na caixa das lembranças de outrora, sempre,
que nem sempre serão para sempre.
Um dia irá rever-te,
quando estiver pronta.
Até lá!

Enfim o fim.




Ela falava demais e dizia,
dizia não gostar de viver.
Fazia graça de tudo e
cantava para enganar a morte.
Mas ela ardilosa, um dia há de vir buscá-la.
Neste dia fechará os olhos e verá as luzes que tanto busca.
Sentirá o cheiro doce no ar, a grama verde a tocar os pés.
Tudo se tornará claro e poderá libertar-se das amarguras, enfim.

'Cause everybody cries
And everybody hurts, sometimes.

O vento




Não morreria por você. Mas o sentimento fica aqui, comigo, calado.
Às vezes passa, outras não.
Alguns dias são fáceis, outros mais dificeis, mas estamos vivos. O que entristece talvez seja a separação, ou o corte. Sim, o corte.
A arrancou dele como a um câncer, fez metros e metros de boas histórias irem com o vento.
Nada ficou.
Talvez as memórias, como carne viva. Tão vivas que sente cortar a alma, às vezes.
Mas passa, como o vento, como tudo que é alheio, que não é nosso.
E o coração cansado, da vida exausto, mas há vida. Nele, nela - ambos.
Separados.
Ele dela foge, ela deixa ir
como o vento - que passou. 

Somewhere Over the Rainbow


São coisas que eu digo para não magoar, 
meu momento é quando quero.
Faço a minha hora, 
mas as vezes ela não dança no mesmo compasso que a sua.
Mas sendo eu mesma incapaz de verbalizar, escrevo. 
Escrevo para me despir das inverdades. 
E no meio da noite um abraço, 
na cabeça dela um outro nó. 
Chora para os olhos de ardósia, 
(aqueles para que lança verdades, dor, sofrimento)
Súplicas de serenidade. 
"Subamos além, subamos!"
Que num outro mundo nos encontremos, 
hoje com lágrimas nos olhos (enfim lágrimas),
dorme bem e espera. 
Espera o dia em que o infante virá. 
E então desperta do sonho viverá a realidade
com sabores de morango e cores de tinta fresca. 
São pequenos escritos confusos, são doces palavras confusas, 
são lágrimas - não dor. 
Algumas coisas são inquebráveis, outras não.

Adeus você




É o cheiro que impregna o travesseiro.
É voltar pra casa sozinha,
São garrafas vazias cheias de lembranças.
É a saudade que ficou,
o vazio que deixou.

Das marcas ao peso




- E se eu pedisse pra ser leve, você seria?
- E se ainda numa tentativa quase nula eu te contasse uma triste história, adiantaria?
minha triste história.
(Silêncio. Não há banda)
Era um diálogo? Não, era um monólogo. Certamente era um monólogo.
E as coisas (sentimentos) iam ganhando novos espaços agora, iam para aquela caixinha onde se guardam as lembranças, as doces.
Quer chorar, mas não consegue. Respira, respeita, sente raiva de si por ser incapaz de travar a luta.
É amor. Alguém duvidaria?
O sentimento mais egoísta e generoso.
Enfim, numa noite qualquer sem querer mais ninguém a moça avista o rapaz de sotaque engraçado, pele esqualida e música latente. E ele? Será que a vê?
Talvez, mas a distancia está ali. Ela sente, mas ignora. A magica cega as pessoas.
E foi levando, dançando e correndo com o barco.
Chorando ele confessa: Te amo, mas não.
E ela?
Quer chorar mas não consegue.
Feridas estancadas, lágrimas cauterizadas.
Há certeza do amor, existe e é forte. Mas como reter o pássaro em sua gaiola?
Seria o egoísmo.
Do amor, guarda ainda a generosidade (como trava lingua).
Também  te amo.

Dandelion



Ela queria viver na terra da fantasia.
Descansar.
Quem já trilhou caminhos de pedra - como ela - entenderia. Mas não quer explicar.
Deitar, dormir, sonhar.
Sonhos aos quais todos teem direito de ter como realidade. Afinal, é a vida só amargor?
Acredita que não. A vida pode ser leve, mas hoje lhe parece tão pesada. 
O dia está cinza, mas é possível tentar enxergar verde luminoso além das sombras dos olhos. Por hora silencia a angústia na tentativa de acalmar a alma. E há tantos Pessoas em sua tarde, sua cabeça é bagunça, mas já conhece o labirinto, o Fauno foi seu guia.
Saberá reencontrar a saída.

18 de Maio


O telefone toca e na agitação do dia, um carinho. 
Numa noite agitada, atordoada ela percebe alguém. 
E parecia que já se conheciam de outrora, tão longe, tão perto. 
A distância foi interrompida, por um curto período, imortalizado pelos mais singelos olhares. 
Tinha um talento natural para a alquimia, 
fazia mágica em tudo que tocava. Mesclou sons e cores, vinhos e cravinhos. 
Tinha um cheiro doce, uma pele suave. Uma certa fragilidade fortalecedora. 
E o seu abraço continha amor, aquele que completa. 
E para onde vão agora? 
Sempre souberam.




João Cabral de Melo Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


MM





E  seu silêncio é que faz eco,
que trago e levo de lá e de cá.
E se confundir, te recorro.
Brinco de re-invento,
invento ser leve.
Teimo de ser feliz.
Você nada diz, mas diz
apressa a calma, acolhe
e quem chora, sorri.



Confundo




Onde eu estava que não vi?
Não vi as marcas que deixaria e me trariam o 'confundo'.
Confundo: expressão que nem sei existe, mas que representa essa sensação.
Sensação, que palavra é essa?
Que enlouquece, enfurece, acalma, pra enlouquecer de novo.

Dos remédios eu preciso, de você não.
Preciso de mim, da lucidez que me foi furtada
Da análise que está afastada, de todo o amor em mim guardado.
Da felicidade à loucura existe uma linha tênue.
Então, o que é ser louco ou são?
O mundo pra mim é louco, eu não.

Sangro, me sangro - de propósito.
É forte e dificil ser eu, tantos eus, tantos 'nãos', adeus.
Não sei quem serei amanhã, talvez a sombra do hoje, ou nem isso.
Talvez eu precise do drama para alcançar a sanidade.

Quatro fases


Ela acordou, coloriu
Coloriu os lábios, pintou a tristeza.
Mas a tristeza ardilosa tem muitas facetas:
Pega, aperta, puxa, toma para si.
Se existem fases, não sabe
Se são 4, tão pouco.
Angústia, raiva, luto, aceitação.
Onde estará?

Microcontos de Páscoa


Era uma vez um Ouriço do mar, inanimado e "inanimável".

Ele vivia aprisionado em seu mundo e acreditava que o tempo passaria rápido e fugaz. Tão cheio de verdades absolutas que assustava todos os outros seres em volta. Era uma espécie de alienígena marinho, tão assustado e submerso em seus dramas que nenhuma outra razão poderia ser tomada como sua, ele tinha suas próprias.

Um dia, como que por encanto o Ouriço se viu seduzido a viver para fora daquilo que chamava de realidade. Foi convidado a abandonar seus espinhos e enxergar além de suas convicções nebulosas, conflitantes.

Ele - não podia ser diferente - se debateu, lutou, relutou. Afinal, foram anos vivendo como Ouriço. Como agora abandonar suas vestes e tomar uma nova forma, uma nova vida? Retorceu-se, rejeitou, tornou-se adversário de si mesmo num conflito interno que o fez sofrer, sozinho, em silêncio.

Mas o Ouriço não estava sozinho, ao lado dele havia o Encanto, que agora passava de sensação a personagem da história. Brigou contra o Ouriço, tentou mostrar o quanto estava errado ao viver no seu mundo de faz-de-conta e o convidou para desfrutar da sua realidade.

Ah! E quão doce soou a realidade, azulada e cintilante. E como num passe de mágica - desses que só se tomam nota nos Contos de Fadas- o Ouriço metamorfoseou-se em Pérola, abandou a carapaça e vestiu-se da delicadeza, fragilidade e amor que o encanto lhe ofereceu. Nunca antes havia experimentado tão doces sabores, nunca havia se permitido ver a luz e se tornar parte desta.

Agora, enquanto Pérola o Ouriço espera. Espera que o brilho do encanto não o deixe, não permita a volta dos espinhos, a escuridão, a inercia. Enquanto Pérola, não quer mais ter medo, não quer mais esconder-se de si e do mundo, deseja apenas viver um sonho real.


Poemas inacabados







Era cinza, ficou claro
coloriu, alumiou
confundiu, entristeceu
Despetalou, escureceu
Beija-te os olhos, arranca a tristeza
e orna-lhe o outono de primavera.
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