Ode a infelicidade humana



Acordei com um sentimento inquietante. Uma vontade de escrever e poder gritar ao mundo alguma coisa que possa fazer algum sentido ou nenhum, mas que ao menos seja verdadeiro.

Ai me pergunto: "Onde está a verdade no mundo?" ultimamente tenho visto em seres inanimados... Os vivos têm me dado medo. Dificil viver em um mundo assim. A tarefa de levantar se torna cada dia mais árdua porque o esforço de outros em fazer com que isso não aconteça é cada vez mais forte. Então a agonia que perpassa meu coração nesta manhã da luz a uma reflexão: Na verdade é uma coisa só - Infelicidade, essa é a causa.

Pessoas felizes não se preocupam em viver a vida dos outros, eles acordam e apreciam a vista de sua varanda com uma boa xicara de café quente. O cheiro do pão com queijo é que importa, as luzes da cidade é que importam. Pessoas felizes vivem suas próprias vidas e fazem suas conquistas sem prejudicar ninguém. Não se importam com o julgamento alheio, seja lá qual for. Eles têm urgência na vida, afinal, até que se prove o contrário ela é uma só.

Eu sei que essa agonia jamais passará, por uma razão: o mundo está repleto de infelizes. Talvez seja para manter o equilibrio da humanidade, ou seja apenas herança do dito pecado original, ou apenas cegueira. Em todo caso, continuarei em volta de criaturas mágicas que possam fazer do meu mundo mais suave, colorido e com o delicioso aroma do mar.

Des-invernando


    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículs.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)

O grito


E ela que por tempos escondeu seus escritos, camuflou seus sentimentos. Tenta falar mas não consegue. Dificil lidar com aquilo que não se entende, denso pegar folhas e folhas do passado e perceber que nada significam. Duro perceber que a realidade é uma só. Cercada de tudo que simboliza o vazio. Era ela ou os outros? O que faltava... ou falta, sei lá - ou sabe. Um catatau de palavras desconexas que conectam a lugar algum, ou palavra alguma. A realidade está distorcida. Não se vê, não se ouve, não se sente ninguém. Dias dias dias.

Ode a Dionísio...


    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.

    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.

    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.

    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.

    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.

    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.


Vida e poesia


A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.

Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
– Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinacão estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.
Copyright @ *Jai Guru Deva... Om... | Floral Day theme designed by SimplyWP | Bloggerized by GirlyBlogger