Queria ser escritora, escrever sobre vidas, quem sabe uma forma de viver
outras histórias que não fossem sua. Ou tomar a vida de seus personagens e
viver contos de felicidade. Uma praga a perseguia, talvez, não conseguia seguir
muito além com linhas felizes, já as tristes eram quase como cuspir palavras,
dizem que a escrita é escapar da vida.
Um dia, levantou-se ainda com as dores de ontem, tomou um papel e
decidiu escrever sobre verdade. Fazia muito calor, já era tarde. O sol
cintilava, mas pensava em escrever sobre a escuridão, não sobre a escuridão dos
dias, é claro, mas a escuridão que acomete os corpos vez ou outra. Seria capaz
de ser clara em seu intento?
Buscou clareza na escuridão dos corpos, haveria de se contentar com
aquilo, seguir além e dar vida a sua. De repente viu cores de primavera, com
ressalvas. Sabe bem, haverão dias em que as cores fugirão, mas espera
refazer-se como outrora e encontrar novas de viver.