Microcontos de Páscoa


Era uma vez um Ouriço do mar, inanimado e "inanimável".

Ele vivia aprisionado em seu mundo e acreditava que o tempo passaria rápido e fugaz. Tão cheio de verdades absolutas que assustava todos os outros seres em volta. Era uma espécie de alienígena marinho, tão assustado e submerso em seus dramas que nenhuma outra razão poderia ser tomada como sua, ele tinha suas próprias.

Um dia, como que por encanto o Ouriço se viu seduzido a viver para fora daquilo que chamava de realidade. Foi convidado a abandonar seus espinhos e enxergar além de suas convicções nebulosas, conflitantes.

Ele - não podia ser diferente - se debateu, lutou, relutou. Afinal, foram anos vivendo como Ouriço. Como agora abandonar suas vestes e tomar uma nova forma, uma nova vida? Retorceu-se, rejeitou, tornou-se adversário de si mesmo num conflito interno que o fez sofrer, sozinho, em silêncio.

Mas o Ouriço não estava sozinho, ao lado dele havia o Encanto, que agora passava de sensação a personagem da história. Brigou contra o Ouriço, tentou mostrar o quanto estava errado ao viver no seu mundo de faz-de-conta e o convidou para desfrutar da sua realidade.

Ah! E quão doce soou a realidade, azulada e cintilante. E como num passe de mágica - desses que só se tomam nota nos Contos de Fadas- o Ouriço metamorfoseou-se em Pérola, abandou a carapaça e vestiu-se da delicadeza, fragilidade e amor que o encanto lhe ofereceu. Nunca antes havia experimentado tão doces sabores, nunca havia se permitido ver a luz e se tornar parte desta.

Agora, enquanto Pérola o Ouriço espera. Espera que o brilho do encanto não o deixe, não permita a volta dos espinhos, a escuridão, a inercia. Enquanto Pérola, não quer mais ter medo, não quer mais esconder-se de si e do mundo, deseja apenas viver um sonho real.


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